Na habitual recuperação sazonal das diversas publicações que se acumulam nas nossas prateleiras sem que a devida ocasião para sua leitura se apresentasse, deparámo-nos com este “Loverboy na Feira das Vanessa” pela Chili Com Carne.
Este é, por diversas razões, um objecto pelo qual nutrimos as mais variadas simpatias.
Pelo projecto de recuperação de velhas glórias zinescas. Pelas notas que o acompanham. Pelo formato. Pelo insert. E -como o confessámos a propósito de outra peça de João Fazenda, ilustrador de cujo traço pós-Loverboy apreciamos - até pela textura do papel.
Estas são pontes muito conscientes nas quais revemos as nossas próprias aspirações à edição dOS POSITIVOS: sempre dispusemos da pretensão de recuperar e reunir os nossos zines antigos e recentes em autênticos compêndios legendados com toda uma variedade de observações acessórias, cujo formato por nós idealizado encontra-se no impossível cruzamento do - e para nos mantermos dentro do universo de publicações da Chili / Mesinha de Cabeceira – Loverboy Vanessa com a inclusão do Mesinha 23 enquanto insert. Os nossos zines alternam entre slims de 16, 32, e os tijolos de centenas de páginas: infelizmente, leis elementares da física tornam tal objecto francamente improvável, e conceptualmente ainda nos debatemos com a idoneidade da paginação necessária à consistência da narrativa nos dois eixos (sequencial vs temporal) que arquitetámos online. Quem já conseguiu cruzar ambas com sucesso que se acuse, temos prémio.
O objecto do objecto é-nos igualmente familiar.
Entre meios e temas, o projecto de Marcos Farrajota partilha com OS POSITIVOS da fase XXX-IRRITANTE mais do que gostamos de admitir: ainda que tenhamos iniciado a publicação dOS POSITIVOS em ’97 e descoberto Loverboy em ’98 por vias das edições Polvo, conseguimos perceber sem dificuldade de maior onde um Peter Bagge nos liga. Mas para enorme gratificação deste vosso escriba, duas colossais diferenças –entre muitas outras, certamente- nos separam: 1) primeiro, Farrajota reedita 20 anos depois o seu Loverboy à época, nós para todo o sempre iremos sonegar os XXX-IRRITANTES de então, inclusive dos 4kg do compêndio referido anteriormente; 2) segundo: o feminino em Loverboy. Não existe. E sendo essa uma banda desenhada que se insinuou na psique nacional, é-nos pertinente a distância que a aparta dOS POSITIVOS. Tal-qualmente uma representação do quotidiano no masculino, evitamos uma já mui vasta literatura dos pitfalls da representação do feminino por autores de pilinha graças à nossa foolproof strategy: até podemos vilipendiar o gajedo nas nossas curtas, mas só em episódios que pouco devem à ficção.
A misoginia que pode ser discutida em Loverboy é apenas um aspecto ínfimo que merece uma consideração mais demorada, entre uma miríade de outros que nos rogam por uma análise cuidada do valor e impacto da obra, ou papel desempenhado na percurso dos seus autores, tal como um estudo comparativo da série aOS POSITIVOS nos poderia ocupar pelos próximos X parágrafos em ademais considerações. Devemos no entanto nesta fase pedir desculpa aos leitores por não explorar essas e outras direções além da sentida apreciação positiva do objecto já aludida anteriormente porque encurtarmos aqui a nossa impressão: obviamente, não vamos ler esta merda.
xtra: bonus round for tha comic-writing-lovebros out there