Começámos a reparar nas crónicas de António Guerreiro por via da nossa alergia aos media (secundada apenas - mas em muito menor intensidade - pela nossa relação aos cómicos: os primeiros desprezamos por razões profissionais e académicas, estes últimos por motivos pessoais, chamemos-lhe um hobby). As suas crónicas ressoam em nós para além do seu teor, a sua escrita atinge certas vezes um mesmo comprimento de onda que nos é familiar, ao ponto de por alturas da polémica de Angoulême -mas totalmente não relacionado- deixarmo-nos deambular nesta sua crónica 5 fev 2016 pela pouco modesta assunção que poderíamos ter parido semelhante peça :)
A sua crónica de hoje 19 fev 2016 - que novamente faz pelos media o que nós gostamos de fazer aos cómicos- termina com uma citação que não nos envergonha nada de replicar neste espaço, por tantas mais razões do que aquelas que continuaremos a repetir vezes sem conta, particularmente depois da última nossa newsletter. Citamos, para recordar:
"Julgo mesmo que, na maior parte dos casos, o teor de estupidez do discurso não corresponde a uma estupidez do indivíduo. O grande erro dos seus detratores está em atacá-lo pelo lado das ideias, da razão e do saber, quando a estupidez do seu discurso está noutro lado: na hipertrofia de um estilo, no dogmatismo do tom, na exibição enfática de processos discursivos primários. Os seus críticos deveriam perceber que há discursos imbecis que só comportam verdades; e há discursos onde tudo está errado mas que são cheios de grandeza, pertinência e inteligência. De resto, a estupidez, tal como aqui a entendo, é de ordem transcendental, o que significa que a sua condição de possibilidade determina também a condição do que é pretensamente inteligente e verdadeiro. E determina outra coisa: atribuir a estupidez a outrem excluindo-se a si próprio é como a lógica do turista para quem só os outros é que são turistas."
A última frase é igualmente interessante para outros propósitos e quem já desconfiava deles não se enganou - uma pausa para um bê-á-bá dos P+ parece-nos necessária: amanhã falamos de coisas sérias para também nunca esquecermos.