Sábado de manhã.
Todos se arrastaram. Uma moleza geral paira no ar mas até ela parece desmotivada para o papel - um que nada fez por merecer mas que lhe caiu na vez porque nada se espreguiça neste antro que lhe tome o lugar... O único distúrbio – muito tímido, diga-se, mais um bocejo do que uma sublevação – à total falta de vigor deve-se ao pequeno périplo da gata, a única que –por enquanto- se mexe. Ela tenta uns encostos aos suspeitos do costume acompanhado de um miar tão lânguido que deixa adivinhar a prontidão com que vai abandonar esse esforço, e na ausência previsível de qualquer reação entre os hominídeos também ela se recolhe ao seu canto e enrola-se numa bola. Moleza reigns supreme.
Ler as notícias? Só o desenrolar muito arrastado dos breadcrumbs que vão deixando cair para que os sigas sem sair da linha: conseguimos adivinhá-las sem ligar porra alguma. Parte de um qualquer livro talvez? Too bored. Olho para as estantes cheias de BD por ler: divago porque esta já pouco me importa. Concluo que – palavra forte para o processo de saltar por pensamentos sem associação de ideias - a BD que leio já não é mais a expressão de nada real e sentido mas apenas a repetição de modelos. O meio foi apropriado por artistas pela forma e por agentes culturais pelo formato sem que o tenha realmente sido pelo público ante o seu conteúdo: temos a BD de e por quem a faz e vende, validando-se a si mesma por comparação ao padrão sem o empecilho de uma massa crítica que a julgue. Decido que tenho que ir beber um café e parar de pensar merda quando percebo que estou a meio caminho de defender a necessidade do crítico.
E que vou precisar de mais estantes.
Acabo a ler notícias sobre BD, ainda conseguem ser suficientemente random para o processar de informação provocar o arranque de sinapses em crescendo. A moleza retrai-se para um canto mais sossegado, em sentido inverso cresce uma rigidez que se alastra da ponta dos dedos para as mãos, sobem os braços e endireitam-me as costas: ganhei uma espinha dorsal onde há minutos atrás apenas havia uma massa gelatinosa impossível de descurvar. Pelo contrário, impossível dobrar agora: I’m game bitchiss!. Sem se levantar, a gata estica as patas da frente e desembainha todas as suas garras, espreguiça-se com um gigantesco abrir de boca silencioso e volta-se para o outro lado. Nah, ya pussy: acabaste de rugir! mesmo se ninguém te ouviu.
Sigo o anuncio do OFFLINE #13 (“out now!”) mas dou por mim a folhear um antigo #11 (2015) que ainda não tinha lido e encontro uma citação do Jack Teagle que não podia vir mais a propósito. Decido então que devo tentar acordar aquela outra massa amorfa: os cómicos.
these days I see a lot of artists and creators borrowing similar symbols, styles and methods - even themes in their work - and it can feel like over saturation
people should have as much fun as possible with what they create
it's important to push boundaries and see how far you can go
it can be frightening to venture into the unknown, but when you're breaking new ground, people aren’t really going to know what to make of it. You have to persevere, have fun and play with what you're doing
you do what feels right
and never be content to settle for the status quo
Na página anterior, uma BD de Nick Burton cuja alegoria é uma pena se vos passa despercebida:
(clica para leres no original)
Estamos resolvidos: há algum tempo que OS POSITIVOS já não são banda desenhada, mas hoje assumimos a coisa coisa na tagline do site: OS POSITIVOS: “UMA OUTRA CENA COM banda desenhada desalinhada desdenhada”.