Início de semana e uma revisão rápida para consolidar todo o nosso programa -àqueles que nos acompanham ainda ie, aos cómicos já lhes deve tremer a impaciência. Apaziguemos-lhes a resistência: prometemos que no final do post de hoje ligamos tudo de volta aos cómicos com a maior evidência que lhes podemos neste rápido interlúdio.
Num parágrafo:
Os i) media são o que são e preparam-se para largar de pele novamente, ii) alternativas exigem-se e possibilidades apresentam-se, iii) tudo porque a tecnologia existe, iv) os perigos estão lá como sempre estiveram.
Onde ficámos: na falácia de seres demasiado complacente ao retalho da web, com exemplo do paradigmático Facebook e como este determina a agenda de milhões.
Como leitura sugerida, da semana passada, com o comin' out do Zack num artigo que nos escusava mais além título, "Zuckerberg proves he is Facebook's editor by allowing Trump's hate speech":
Mark Zuckerberg is officially the editor-in-chief of the world’s largest news organization, though he may not know it yet.
in "Zuckerberg proves he is Facebook's editor by allowing Trump's hate speech" 22 outubro 2016
O "ele não o saber ainda" é irónico. Isto porque, pela insustentabilidade da situação, o rapaz teve que se justificar. Fora a ironia:
Two news items on Friday suggest that Facebook is instituting editorial standards analogous to those of a newspaper – and that Zuckerberg has the final say in matters of editorial judgment. (...) Deciding to make judgments about the newsworthiness of content is a major shift for the social media platform whose CEO insists it is ‘not a media company’
in "Zuckerberg proves he is Facebook's editor by allowing Trump's hate speech" 22 outubro 2016
Uma das razões para o Zacarias admitir o seu envolvimento no "curar" de notícias é-nos particularmente relevante: para abrir uma excepção à interdição oficial ao discurso de ódio do Trumpo:
Zuckerberg decided not to remove posts by Donald Trump, despite the fact that they violated the company’s rules barring hate speech
in "Zuckerberg proves he is Facebook's editor by allowing Trump's hate speech" 22 outubro 2016
E o Trumpo tem um apoiante ainda mais explícito no board da direcção do Facebook:
Peter Thiel, the Facebook board member who has bucked Silicon Valley political orthodoxy by backing Donald Trump’s xenophobic, Islamophobic, sexist, anti-science, and increasingly dictatorial campaign for president.
in "The hypocrisy of Facebook's silence on Peter Thiel's support for Donald Trump" 18 outubro 2016
O contraste, explicado no mesmo artigo:
Trump’s ideology represents a direct threat to Facebook’s stated mission to “make the world more open and connected”. (...) And yet, Zuckerberg and Facebook remain silent on Thiel, who has not only served as a delegate and convention speaker for Trump, but this week donated $1.25m to support Trump’s campaign, even as a flood of allegations of sexual misconduct scared off major donors and leaders of the Republican party.
in "The hypocrisy of Facebook's silence on Peter Thiel's support for Donald Trump" 18 outubro 2016
E a moral:
The lesson (...) we can glean from tech’s response to Peter Thiel is the perfect public relations strategy for an industry that proclaims “Black Lives Matter” while overwhelmingly failing to diversify its own staffs. “Hate speech is fine as long as you find a proxy to do it,” he said.
in "The hypocrisy of Facebook's silence on Peter Thiel's support for Donald Trump" 18 outubro 2016
Ou poderá ser apenas paranóia nossa. Tentemos de outra forma. Hate speech by proxy? Trumpo? Hoje no Público, resumo nosso do artigo de Rui Tavares.
Citamos dos media apesar dos media porque importa-nos medir o pulso da besta, mas citar do RT é-nos agradável.
Sobre trolls:
Para quem não conhece, o troll é aquela figura da Internet cuja principal ocupação é desestabilizar um adversário. O objectivo de um troll (trolar, na linguagem da net) não é participar de um debate mas usar as regras do debate para minar o próprio debate, afastar as pessoas mais razoáveis, criar confusão, desconversar e no fim do processo vitimizar-se se for denunciado. Não precisamos de nos demorar na etiologia ou na sintomática do troll. Como disse um juiz do Supremo americano sobre outro assunto, sabemos que se trata de um troll quando estamos perante um troll.
in "Bem-vindos ao Troloceno" 24 outubro 2016
Exemplos de trolls... uh-I-dunno... Diz-me se alguma coisa aqui te é familiar?
Nos EUA, os últimos meses têm sido dominados pela ascensão do movimento “alt-right”, um fenómeno típico das catacumbas da Internet da direita racista que agora está na direção da campanha de Trump. O objetivo da alt-right é normalizar o racismo, a islamofobia e o anti-semitismo. Tudo vale, mas um dos divertimentos preferidos da alt-right é mandar aos seus adversários fotografias dos filhos destes em montagens com câmaras de gás nazis.
in "Bem-vindos ao Troloceno" 24 outubro 2016
Porque falamos de trolls? Por causa de um cartoon:
If Russia is in decline, why worry? Maybe, real worry is West's decline and that we manage things better? pic.twitter.com/WqG4uT5Pqt
— Russian Embassy, UK (@RussianEmbassy) 22 de outubro de 2016
Com a sua indesmentível mensagem bélica — além de homofóbica, claro —, este cartoon foi publicado nem mais nem menos do que pela conta oficial da Embaixada da Federação Russa no Reino Unido. (...) Que tal demonstração de desdém pela linguagem diplomática tenha sido publicado por um canal oficial de um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU diz-nos muito do que precisamos saber sobre o nosso tempo. Vivemos numa cultura política internacional cada vez mais cooptada pelas atitudes das caixas de comentários da Internet.
in "Bem-vindos ao Troloceno" 24 outubro 2016
E online onde? Num twitter. We-good? Nem por isso, mas voltaremos aqui em 30 segundos.
As conclusões de RT são as bases de todo o nosso desígnio desde que começamos este rol de posts sobre a BD no digital. Pelo Rui:
Tal como não há uma só sintomática do troll, não há uma única forma de combater a chegada do Troloceno. Mas o primeiro passo é certamente o mais importante: reconhecer e identificar o problema.
in "Bem-vindos ao Troloceno" 24 outubro 2016
Reconhecido, identificado, e a aula de revisões de início de semana termina aqui.
Voltando ao twitter: já não é de agora a nossa inclinação ao cartoon editorial, mesmo antes de nos preocuparmos em problematizar os webcomics, começávamos intuitivamente a navegar na direcção destes.
in "them funnies!" janeiro 2016
Teen, abrir livro, virar página, próximo capítulo de comics no digital: o cartoon.
Cómico, gostava de te dizer que voltámos à BD e a política acabou aqui, mas... cartoon editorial sem política não temos: é a definição da coisa. Sorry, dude, tudo é político hoje em dia.
this right here? politics too.