Aquela impressão que tudo anda ligado: coloquem os vossos tin foil hats e acompanhem-nos sff.
Terminamos a semana sem sobressaltos de maior entre os habituais paper pushers com a honrosa exceção da crónica de AG. Deixando a interpretação deste às vossas simpatias, surpreende-nos não só enquanto non sequitur aos seus textos anteriores -
{ funny }
- mas sobretudo porque enredado nos seus desígnios sobressai uma repetência grosseira que nada tem de acidental – mesmo se, neste caso, as subsequentes significações escapem aos propósitos do seu autor, tal como naquele exacto momento nos escapou sua amplitude: na sua crónica, o autor repete, diversas vezes, demasiadas vezes para conforto, o nosso nome.
Do desconforto geral, ficou-nos esta:
A proeza de ver um escritor libertino travestido em Condessa de Ségur não se deveu aos críticos e jornalistas, gente tão dada à angelologia que jamais poderia suspeitar do Valter e do seu daimon.
in "O Anjo da pornografia" 3 fev 2017
Manhã torna-se dia, tarde, noite, a estranheza desvanece no assalto aos sentidos com que rachamos as ofensas que nos afronta a rat race, noite estende-se para sábado e 3 horas depois da meia-noite o concerto acaba: recolhemos ao covil exaustos, rendidos, mas satisfeitos. Sábado, o gang saiu à rua, sozinho em casa, sentado no tapete mais próximo das janelas com uma caneca de chá que fumega do chão e –a custo- um muito massudo livro em mãos. Abro. Front and center, um outro daemon.
Trata-se de um regresso ao conceito de "génio" da Grécia antiga - o daemon de Sócrates, por exemplo - ao espírito que vive no interior das criaturas e as guia, escapando ao seu controlo.
Quantas vezes essa palavra vos apareceu no léxico da ultima semana? mês? meio ano? e de repente, coincidência, em dois dias seguidos obriga-nos ao seu reparo?
Descontando que o Barzun adivinhasse um ex-primeiro ibérico em ribalta das notícias para inícios de fevereiro quando escreveu o livro há 17 anos atrás -mas, note-se também essa coincidência- teremos que remeter para o outro, anterior, sem o canudo do Institut d’Études Politiques de Paris. E assim, para nenhum dos dois: a proximidade do seu primeiro uso a outra personagem –urs trully- quando traça a terceiro e nenhum desenvolvimento sobre qualquer um destes filósofos políticos além da referência necessária para introduzir o conceito convence-nos que estamos perante aquele processo que tão bem conhecemos de codificação de sentidos em time-travelling. Usemos pois o método da significação que pedimos emprestado a ciências tão válidas como a adivinhação por folhas de chá.
Da página que abrimos, abre com "medidas ausentes da vida quotidiana, dos negócios, do governo? Era necessário deixar falar o ubíquo acaso" e termina a sua última linha com um "Quando a imprensa noticia qualquer coisa de indecoroso, qualifica-o de" – de que conclui na página seguinte.
Medidas ausentes no quotidiano? Com negócios e governos à mistura? Logo agora? Tens-nos lido recentemente? E termina com a imprensa? Tens-nos lido recentemente? E sobre o que esta, a) o que ela noticia de indecoroso? b) e como qualifica ela então? Na página que se segue uma singela palavra conclui o raciocínio: "surrealista". Caros, brincamos, em plena era de realidades alternativas? Falemos pois, do acaso ubíquo que nada deve ao fortuito.
Estamos sintonizados. E a mensagem que nos chega à atenção por via de dois demónios? Difícil de precisar mas suspeitamos das passagens que nos são mais próximas. Primeiro, a chave da encriptação:
Do ponto de vista psíquico, cada artista cultiva o seu próprio jardim, e o leitor e espectador utiliza a sua própria reserva de imagens psíquicas para interpretar aquilo que lê ou vê.
in Barzun
There u go. Continuando:
A teoria crítica da década de 90 do século XX segundo o qual cada obra de arte constitui "um mundo autónomo" valida a prática.
Chave válida, mensagem aceite. É o método científico aplicado às nossas efabulações sobre teorias de conspirações e significados escondidos. Incrédulos? Não vês as coisas como as vemos, muda de perspectiva:
De uma outra perspectiva, essas obras são também "arte pura" já que, procedendo do inconsciente, ignoram todos os significados estabelecidos.
Nigga please. O que já vos dissemos de mensagens que viajam no Tempo para serem abertas no momento certo? Do momento:
O sem sentido governa o mundo
Check. O resto do texto lê-se com uma claridade assustadora. Da missão:
O artista condena a sociedade ao mostrar não os seus disparates, mas a sua loucura.
Do método:
Confiar no inconsciente simplifica as coisas: por definição o inconsciente não é erudito nem judicioso e toda a gente tem um.
Duas mensagens, uma pessoal e outra para vocês. A nossa:
As suas expressões, em forma de associação livre ou escrita automática, não são sujeitas a revisão, para evitar que percam o seu carácter genuíno.
Não as sujeitemos pois a revisões por ninguém. A vossa: no more gatekeepers, acabemos com as elites e faz o que te parece certo. E não te preocupes:
Desta maneira, o artista individual, ao não ser responsável em nenhum sentido, está realmente acima da crítica.
- com o devido disclaimer/small print: vivemos dias de urgência com um twist para o pior -mo' tha come soon mas fica já aqui uma cite:
It’s always darkest before it turns pitch black.
Ou, em prosa mais requintada:
E uma vez que o inconsciente é, aparentemente, um depósito de horrores, explorá-lo contribui para a aceitação gradual de manifestações normalmente consideradas cruéis, perversas, obscenas, "doentias".
Finalmente, transversal, omnipresente, nunca mencionado, impossível não relacionar a um terceiro deamon:
A disk and execution monitor (daemon) is a background process running in computer multitasking operating systems, usually at bootstrap time, to perform administrative changes or monitor services.
Mudanças administrativas e serviços de monitorização que ocorrem em diferentes frentes e na base de todo o sistema? Tha horrors, tha nonsense, tha crazys, com comics, art, artsy-comics, e de volta aos punx, politics, revolucionários e tecnologia: se tudo te parece muito complicado e overwhelming, segue o conselho e abraça o método.
Beber desse lago subterrâneo feito de associações guiadas pelo instinto