sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

eulogy for -

Obrigados a regressar para o registo: por razões que não poderemos resumir aqui-e-agora com o valor devido e o sentimentalismo que nos reclama, assinala-se um pouco por todo o lado a morte do Flash (*). É um momento repleto de carga simbólica, a revisitar, e do qual podemos igualmente disputar um futuro por vir além do passado que se desvanece.

* Agora de vez: o "Is flash dead yet?" já data de 2010.

Boing Boing:

For real this time in "Adobe to (finally) pull plug on Flash, for real this time" 25 jul 2017

Wired:

It’s rude to speak ill of the dead, but since Flash is technically still in the process of dying, we can allow ourselves a moment of reflection. in "Adobe finally kills flash dead" 25 jul 2017

...e de quem, como nós, trabalha a área há vários anos e acompanha o Flash desde os seus primórdios, Bruce Lawson’s personal site:

As we open standards advocates pat ourselves on the back, it’s good manners to acknowledge the debt we owe to the Macromedia and Adobe engineers, and hundreds of thousands of Flash developers for pushing the web forward. Thank you.

There’s no doubt in my mind that Flash drove the web forward. It was eagerly adopted by many developers, partly because of excellent development tools, and because once deployed, it looked the same in all browsers and platforms. HTML5 was set up by browser vendors explicitly "in direct competition with other technologies intended for applications deployed over the Web, in particular Flash and Silverlight" and stole features directly from Flash.And now Flash is reaching the end of its life. I’m glad, because now we have a more robust and future-proof open standard and open standards are always superior to proprietary ones. in "Eulogy for flash" 26 jul 2017

A nota do Bruce vai mais longe e termina naquela inquietação que também acompanhamos por estes lados:

But I’m also nervous; one of the central tenets of HTML is to be backwards-compatible and not to break the web. It would be a huge loss if millions of Flash movies become unplayable. How can we preserve this part of our digital heritage? in "Eulogy for flash" 26 jul 2017

Arquivos digitais. Familiar? O que nos devolve à peça da Ars Technica:

Perhaps more significantly, Adobe doesn't appear to be offering a long-term way to access the substantial legacy of Flash content. While many uses of Flash were low-value—advertising, splash screens, and other such annoyances—there's a vast number of games and other interactive content that will be inaccessible after the end of 2020. This is a significant cultural artifact spanning around 20 years of the Web's earliest days. in "Adobe ending Flash support at the end of 2020" 25 jul 2017

Do passado. Do futuro: a aprovação da W3C de DRM no HTML5, via os Encrypted Media Extensions (EME), rapidamente trará de volta à web uma infinidade de soluções fechadas a ofender todos aqueles que a prezam open - to be continued.

O seu falecimento toca-nos também a um nível pessoal: ainda hoje desenhamos OS POSITIVOS numa versão velhinha do Flash porque gostamos do seu workflow; profissionalmente sempre o incluímos no toolkit de ferramentas em diferentes frentes -web, multimédia, jogos, animação- ainda que já raramente recorramos a ele. Por coincidência, anunciam a sua morte no preciso momento que nos decidimos por outro software -precisamos da mobilidade- e, sobretudo, é-nos extremamente simbólico que o matem no final deste ano: o início de uma nova era a poucos dias de enterrar a antiga.

Flash is dead. Long live flash.

Tech como framework ideológico: u think?

E de browser apontado às notícias, que outras podem encontrar novo sentido em rodapé ao obituário de tecnologias de eras idas no circuito habitual de cultura, livros, media, imprensa, comics, mais tech, politics, yadda, yadda, yadda? Recap acelerado.


I

Jornalismo e imprensa - e académicos


Jornalismo enquanto ramo da indústria do entretenimento

De sexta-feira passada, António Guerreiro fala do "descrédito em que caiu uma profissão outrora respeitada" e destaca-se com o seu "É preciso queimar os jornalistas?". Ele pergunta, nós sabemos a resposta mas estamos de férias. Do "ambiente onde se cultiva a suspeita e o desprezo pelo jornalismo e pelo sistema mediático, muito especialmente pela numerosa oligarquia que tem a seu cargo o comentário político e o editorialismo", regista a "insurreição contra o poder jornalístico" que "não consiste apenas numa atitude arrogante das elites intelectuais". A prova? OS POSITIVOS: snobs, não elitistas. As suas conclusão são as nossas, que nos motivam ao contra, com cultura.

De um modo geral, foi toda a crítica cultural que desapareceu. O comentariado político como uma das belas-artes do tempo do jornalismo inócuo, estéril e histérico. O resultado está à vista: os media a funcionar no vazio, alimentando-se de si próprios. in "É preciso queimar os jornalistas?" 21 jul 2017

E o excerto que mais nos chama a atenção e nos abre outras linhas de investigação (*):

* E numa nota pessoal por razões que não poderemos resumir aqui-e-agora também, devolve-nos ao Flash por outras vias.

A presença, hoje, nos jornais e na televisão, dos chamados intelectuais mediáticos esconde uma escandalosa rasura, na esfera mediática, do que se passa no campo do saber, das artes, das letras, das ciências. Em tempos, o poder jornalístico constituiu-se em luta contra o poder académico, cada um deles com as suas regras e reivindicando a prerrogativa da legitimação. Já vai longe essa inimizade pública: hoje, as duas esferas raramente se encontram. E isso deve-se ao facto de também a Universidade se ter modificado substancialmente. in "É preciso queimar os jornalistas?" 21 jul 2017


II

Cómicos


Imprensa? Desconfiança, descrédito. Talvez Sama o resuma na essência com o seu post de hoje:

Sama in "The News" 26 jul 2017

Comic, cartoon, in-digitalis, online, aberto, mas-há-a-newsletter-se-preferes e outras plataformas: NIB. Deste, da semana que passa, e no tópico de tecnologias que se impõem aparentemente apolíticas mas ideológicas - afinal, qualquer ideologia só é total quando se pretende acima da política -, o destaque para o irresistível "Famous Moments in History, Reimagined By Centrists" 20 jul 2017:

Tech como política: u think? Kasia Babis in NIB

De tech-e-ideologias em par, duas outras notas da semana em que não estamos aqui, curadas pelos desígnios que nos movem.

Isabelinho termina na introdução à sua listagem de best of com um:

Of one thing you may be sure, though: I bought them all. It's my opinion that the moment a critic accepts a book from a publisher s/he ceases to be a critic to become another cog in the prop machine. in "Intro To My 31 Favorite Comics Post Series" 24 jul 2016

Não precisamos de elaborar sobre o excerto acima, ponto final parágrafo.

Continuando dos 'tugas e de listas e de bests, muitas declarações para os Eisner entre os media:

Não, o duplicado não é erro, é sistémico, e descontem o nosso "desprezo pelo jornalismo" quando apenas fora do "sistema mediático" (DN, RTP, e by god no Público ao menos rescreveram a peça, talvez porque as rotinas ainda não contaminaram a juventude de um P3), encontramos um indício de pensamento crítico no tópico de prémios da indústria, pela indústria, para a indústria.

Mais mediática, foi a nomeação da livraria Kingpin para o Will Eisner Spirit of Retailer Award. Se é verdade que as primeiras reações efusivas foram prematuras (...) coube aos jurados deste prémio a eleição do vencedor, que, como sublinhamos novamente, vale o que vale. in "Eisner Awards 2017" 19 jul 2017

Nesse tópico, nota para dois casos de estudo na ilustração no cruzamento dos media-online, jornalismo e bd. O projecto Bandas Desenhadas não deve favores à imprensa tradicional e impõe-se gradualmente como referência na divulgação especializada - com pontos pela investigação na peça à análise das reações prematuras. A acompanhar e comparar com o anúncio de ontem 25 jul 2017 da Acalopsia, onde se promete um regresso às notícias depois de resolvido aquilo do $$$: outro tópico recorrente do qual o editorial de Bruno Campos será sintomático no panorama nacional.

Last e not least, na interserção dos comics com o digital, alguns excertos soltos que se vão tornando cada vez mais habituais. Citamos de "Images of the Digital Age: "Something Unusual is Happening" at Printed Matter", outro título de significâncias irónicas à mistura no encadeado acidental do imagens, na era digital, e o que de pouco usual nestas acontece, numa galeria que se chama "printed matter": não podemos inventar estas coincidências.

Fully immersed in the digital age, we are in a constant state of multitasking; we carry web browsers in our pockets, simultaneously talking, reading, and traveling. Whereas once we relegated combinations of image and text to children’s books, now they ooze from our fingertips as we spew emoji and GIFS alongside our letters. One particular media is well-suited to champion narrative that captures our new mode of interaction: the comic. Already steeped in image-text combinations, its layered multi-panel form speaks our digital language. in "Images of the Digital Age: 'Something Unusual is Happening' at Printed Matter" 24 jul 2017

Familiar?


III

Papel online: estado da arte?


Na frente das transformações pouco usuais que o digital força sobre as matérias impressas, resumimos com outro longo excerto a merecer a vossa reflexão, particularmente entre aqueles que ainda resistem à nova era.

The nineties and noughties were a golden age in publishing. Books, newspapers, magazines - they all made the sort of money that paid for long lunches which turned into late dinners with open tables and murderous bar bills. And then … it was over. Both industries - publishing and media - were disrupted with extreme prejudice. The Great Recession starting in 2008 accelerated a structural collapse which had been underway since Mosaic rendered its first web page nearly fifteen years earlier. The sorrows of media have all been well traversed: the closing of venerable mastheads; the hundreds of thousands of laid-off journalists; the indignities of clickbait; the desperate raising of paywalls; the erosion of standards; the triumph of advertising over editorial; the shit-eating grins of the surviving management cadre as they tried to pretend everything was still totally golden. in "The quiet catastrophe, then reinvention of book publishing" 17 jul 2017

For the clubby, exclusive aristocrats of old-world publishing, this was a quiet catastrophe.

Destaque para parêntesis: aquilo das coincidências. Em paralelo com as nossas leituras longas a meter em dia, sobrepomos às teorias do Matthew Arnold e a escola de pensamento do F.R. Leavis retirados do "Cultural Theory and Popular Culture". Mateus:

The first grand theorist of popular culture had in fact very little to say about popular culture, except, that is, to say that it is symptomatic of a profound political disorder. Arnold’s main concern is social order, social authority, won through cultural subordination and deference. Working-class culture is significant to the extent that it signals evidence of social and cultural disorder and decline – a breakdown in social and cultural authority. The fact that working-class culture exists at all is evidence enough of decline and disorder.

Ele propunha "a revolution by due course of law":

A revolution from above, a revolution to prevent popular revolution from below. A reform given is always better than a reform taken, forced or won. Popular demands are met, but in such a way as to weaken claims for further demands."

E a sua continuidade em Leavis:

Leavis is nostalgic for a time when the masses exhibited an "unquestioning assent to authority". Leavisism looks back longingly to a cultural golden age, a mythic rural past, when there existed a shared culture uncorrupted by commercial interests - a cultural coherence based on authoritarian and hierarchical principles. This was a mythic world in which everyone knew their place, knew their station in life.

Dos leavisistas, dos bons velhos tempos:

The masses were receiving their amusement from above...They had to take the same amusements as their betters...Happily, they had no choice.

Isso. Ou não.

E de escolhas, a tecnologia do papel, ideologia: colectivos, distribuídos localmente, e novamente o $$$

The new growth in publishing is explosive, but invisible. It’s thousands of authors making solid middle-class incomes for themselves as independent digital publishers. It’s collectives of those same authors banding together to create virtual publishing houses. Indie authors are capturing between 30 and 40 per cent of the global ebook market, while small- to medium-sized publishers account for another 20 per cent. The Big Five have allowed themselves to be squeezed out of the ebook market — they can lay claim to only 38 per cent of global sakes. in "The quiet catastrophe, then reinvention of book publishing" 17 jul 2017

E de avanços tecnológicos, enter inteligência artificial:

Micromanagement of Amazon’s algorithm that is the secret of indie publishing success. in "The quiet catastrophe, then reinvention of book publishing" 17 jul 2017

Ou pensavam que era o talento dos autores que os destacava entre os demais? Não senhores: one percent inspiration and ninety-nine percent perspiration. Voltaremos a este, antes, o online com reforço no descentralizado:

Blogging in 2017 is absurd: most people don’t own websites anymore. Microblogging might be still in, video blogging might be the last-next frontier, and maybe tinyletter will stay underground-cool. It’s pretty weird to run your own website, to care about making it efficient, to keep using last-gen tech. Decentralizing the web, or at least avoiding the monopoly-fueled monoculture of the web, has been around forever. but a popular, daily-usable, semi-mainstream alternative to the internet has been elusive and in the period of 2009-2013ish was overshadowed by other trends. But now in 2017, a re-decentralized web - ‘dex’ for short - is back in vogue and there are some promising projects. in "So you want to decentralize your website" 20 jul 2017

Descentralizar? Bloggar? Indie? Senhores...


IV

Automatismos e IA


Não vamos notar que não é só o teu frigorífico ou micro-ondas que conspira contra ti: até o teu aspirador quer vender a planta de tua casa à Amazon, Apple ou ao Google 25 jul 2017. Antes, e mais directamente implicadas às nossas teses no cruzamento de webcomics et punx, com o nosso foco da AUNTENTICIDADE e BITMITIZAÇÃO, os destaques vão para duas peças.

Imagem parada:

The first tasks to be outsourced to machines are the most routine. The upshot of this was that artists and other creative types can rest easy since quantifying creativity and aesthetics is much more difficult. Nevertheless, AI researchers are hard at work tackling the problem of artificial creativity, and machines are slowly learning how to write poems, novels and even movie scripts. in "Google’s Algorithmic Photographers Are Almost as Good as the Real Deal" 23 jul 2017

Exemplo: "Creatism", um "system for artistic content creation" capaz de passar num Turing-test por fotógrafos profissionais.

The idea was to break down photo aesthetics into quantifiable parameters that could be taught to a machine using professional artistic examples. The result, is an algorithm that "mimics the workflow of a landscape photographer, from framing for the best composition to carrying out various post-processing operations." in "Google’s Algorithmic Photographers Are Almost as Good as the Real Deal" 23 jul 2017

Imagem em movimento:

This is the future of fake news. We’ve long been told not to believe everything we read, but soon we’ll have to question everything we see and hear as well.

In an age of Photoshop, filters and social media, many of us are used to seeing manipulated pictures. However, there’s a new breed of video and audio manipulation tools, made possible by advances in artificial intelligence and computer graphics, that will allow for the creation of realistic looking footage. Several research teams working on capturing and synthesizing different visual and audio elements of human behavior [onde] voice-morphing technology could be combined with face-morphing technology. in "The future of fake news: don't believe everything you read, see or hear" 26 jul 2017

E aqui está um excerto do vídeo.

the obama deception

Talvez entre quem nos lê já alguns comecem a compreender onde pretendemos chegar no tópico da autenticidade na era da reprodução digital: para lá caminhamos. Any-ho. We-gone, punx: as próximas semanas estaremos offline e só daremos atenção aos escritos de Mark Fisher.


V


Logo - a terminarmos este eulogy, outro, onde iremos começar no regresso. Tecnologia? A mediar ideologia? Punk? Blogs ressentidos e vingativos contra o status-quo cultural? Uma revolução que começa de baixo com a apropriação da tecnologia dos de cima por via da cultura de massas? Senhores... Familiar?

 

K-Punk involved an entire canon.

A post on K-Punk, produced in his spare time, unpaid, was always far more finely wrought, considered and original than the hackwork people were and are habitually paid for.

I had been reading K-Punk, religiously, for writing of a sort that wasn’t supposed to exist anymore, and that elsewhere, off the internet, largely didn’t. I would wait for, and then read, the latest K-Punk post, many of which had the same sense of anticipation that you would have waiting for a new record, the next episode of some sort of dream-serial. Mark was such an inspiration because he had made his blogging a vengeful, resentment-driven assault on a cultural and political world that seemed designed to make sure that someone like him was impossible. The point for him was the creation of a new network, something that would supplant and destroy the world of….well, you can fill in who, you know who they are, and they’re still there. in "'Writing of a sort that wasn’t supposed to exist anymore': Mark Fisher Remembered (1968 – 2017)" 17 jan 2017

Com mais algumas semelhanças aOS POSITIVOS que já notámos antes.

I learned, and it made perfect sense, that K-Punk had come out of a period of depression, as a means of getting out of it. in "'Writing of a sort that wasn’t supposed to exist anymore': Mark Fisher Remembered (1968 – 2017)" 17 jan 2017

Going, gone.

renascer