thinking' about it...
De semana passada, mas a recordarmos a propósito do estado da arte em Capitalismo, edição "indústria da edição". O parêntesis é mais um teaser ao tópico, cruzado com as ironias das coincidências de leituras que se fazem: está tudo ligado. Em pleno acto de cumprir a peregrinação anual de férias, conquista slash anuência pequeno-burgês ao capital, abrimos o jornal para uma realidade que é a mais generosa das comédias de costumes.
Acto 1: um autor rebela-se contra a baixa de preço nos livros.
The award-winning author has spoken out about how cheap books devalue the experience of reading, and called for an end to the "pernicious" doctrine of "market fundamentalism" if literary culture is to survive (...) launching a campaign for publishers to stop damaging authors’ earnings by discounting bulk sales to book clubs and supermarkets, and has slammed the cut-price culture in his trade. "It’s easy to think that readers gain a great deal by being able to buy books cheaply. But if a price is unrealistically cheap, it can damage the author’s reputation (or brand, as we say now), and lead to the impression that books are a cheap commodity and reading is an experience that’s not worth very much."
in "Philip Pullman leads writers condemning 'pernicious' book discounts" 4 ago 2017
Acidentalmente - ou muito a propósito, se apanhares as insinuações que este travessão deveria conseguir produzir - o senhor em questão "is president of the Society of Authors". "Mas", continuando, do $$$, com um insight que nos faz esquecer a dita sociedade atrás mencionada:
He was "not blaming any one of the parties involved in the book trade in particular" for the current situation, because "I want the whole trade to prosper". Instead, he looked to "a simple villain – the doctrine of market fundamentalism, that the market knows best, and that a free market is the best of all possible states".
in "Philip Pullman leads writers condemning 'pernicious' book discounts" 4 ago 2017
Apreciamos o sentimento anti-mercado mas os que seguirem o artigo saberão onde a lógica se esbarra à nossa resistência. Tal como no conluio de preços das editoras contra a Amazon, estamos a poucos argumentos de admitir uma alta de preços a bem de –bem, a bem de alguém, e desse alguém insinuaremos mais abaixo, suffice to say, o autor só ganha por tabela; e "tabela" é palavra-chave na comédia que aqui recordamos. Citando na mesma peça outro autor, a confirmação:
The power to offer books at a greatly reduced price has allowed supermarkets and online retailers like Amazon to overwhelm the market crushing all opposition and creating a virtual monopoly.
in "Philip Pullman leads writers condemning 'pernicious' book discounts" 4 ago 2017
No seguimento do artigo queremos sentir o pulso ao mercado e seguimos a ligação em rodapé no tópico de "publishing".
Acto 2, interlúdio humorístico.
Deparamo-nos com uma página onde lado-a-lado à penúria descrita atrás nos dizem que JK Rowling, autora, nada em dinheiro.
JK Rowling will need to reserve a particularly large vault at Gringotts bank after a bumper year for the Harry Potter novelist magicked her back to the No 1 spot on Forbes’ list of the world’s richest authors.
in "JK Rowling's return to Harry Potter makes her world's richest author in 2017" 3 ago 2017
A ironia é dupla: porque surge na continuidade do anterior, e sobretudo porque ela é explicitamente referida nesse como ilustração das tais consequências perniciosas de livros baratos. Citando:
The classic example was the final Harry Potter – a book, if there ever was one, that would have sold to everyone for full price, and which everyone discounted so much that enormous amounts of money must have been lost to the trade.
in "Philip Pullman leads writers condemning 'pernicious' book discounts" 4 ago 2017
Clássico. Exceto na parte que a srª Potter está afinal cheia do papel.
Acto 3, the plot thickens.
E sobretudo, a peça que nos surge imediatamente por baixo da Rowling – descontando o obituário, já fizemos por aqui um há pouco tempo -fecha-nos este rápido estado da arte em edição circa summer of 2017. $$$, edição independente, por via do mais monopolista das editoras, e com o twist do digital. Quantas ironias combinadas!
The writer David Leadbeater has struck gold with his self-published archaeological thriller, The Relic Hunters, scooping up the first Amazon Kindle Storyteller award. Leadbeater pronounced it "a dream come true" to win the £20,000 award, which is open to writers who produce their books using the online retailer’s Kindle Direct Publishing platform.
in "Self-published archaeological thriller takes £20,000 Amazon award" 28 jul 2017
Outro autor a nadar em dinheiro, portanto. Mas o prémio é a exceção: só as alminhas mais inócuas podem viver destes. O take away mais importante é mesmo a tech a revolucionar a indústria:
After four novels sales were good enough for him to write full-time. Now that he has published more than 20 thrillers, he estimated that he had now sold more than 750,000 ebooks. He added that although he was approached by publishers early on, so far he has resisted their offers. "I prefer to go it alone," he said, "to be my own boss – there’s so much freedom."
...E que essa liberdade dependa da Amazon é a tragédia – mas não podemos ter a comédia sem o seu oposto: o humor e a depressão. Recordamo-nos de um gráfico do ano passado que é bastante ilustrativo da diferença entre o fazer tu mesmo, e o fazê-lo pelos monopólios digitais, versão musical. Note-se as colunas de quantidades, quem recebe esse dinheiro, e quanto sobra ao autor.
"Selling Out - how much do music artists earn online?"
Clica no gráfico para maior, para efeitos de grandeza, vê o resto em "Selling Out How Much do music artist earn online" 2015
Das realidades digitais? Não, transvazam: apresentamos o nosso final à data, inconclusivo porque a piada ainda decorre. De volta à realidade que apalpas, jornal desligado (*) e poucos passos arrastados além da esplanada onde cumprimos parte dos nossos deveres de verão, deparamo-nos com uma feira do livro.
* Outros tempos ditariam "jornal fechado", hoje essa expressão confunde-se às falências na industria: do estado da arte em Imprensa estamos conversados.
Nesta encontramos mais resquícios de fim de catálogo da VitaminaBD e da Witloof , e não particularmente interessados nas bds em si mas apenas porque o preço estava finalmente baixo o suficiente para merecerem a consideração, trouxemos alguns livros connosco - e até gostamos de um.
Conclusões à vossa imaginação.