Insuspeitos por que lado batalhamos na relação da banda desenhada à arte: contra ela.
O seu reconhecimento artístico pressupõe a dissolução da bd em tradições e estilos que devem mais à história da arte que às práticas próprias ao meio, e quando estas chocam com a apetência à desconstrução de convenções e mecânicas na bd - ou à bajulação de académicos e críticos que lhe omitem a sua própria tradição no seio da cultura popular e produto de uma indústria de massas-, optamos por negar subserviência à pretensão feita. Não fazemos posição pelo purismo da banda desenhada, inexistente, nem nos confundam em fanboyismo - podemos atirar pedras a esses também-, mas tratemos por agora de artistas wanna bes: a banda desenhada não pode ser dissociada da cultura que a origina e sustenta, comprometida com uma indústria de comunicação e entretenimento e respectivo aparato tecnológico que a assenta.
A arte da banda desenhada consiste em navegar estas águas: qualquer exercício que atente destilar as suas partes e artificialmente eleger uma sobre as demais ignora a sua essência.
Queremos –queremos?- a sacralização dos comics pelas suas mundanidades, não pela sua assunção no reforço de hierarquias culturais prevalecentes e a pouco subtil sugestão da sua ilegitimidade a tais espaços quando apenas aqueles que renegarem o meio podem aceder ao panteão da arte - a inclusão dos comics entre estas deve ocorrer pela reformulação dessas, nunca pela conciliação dos comics a condições prévias.