Podemos acusar ao sucesso dos graphic novels a oportunidade de colocar bonecos frente a adultos que de outra forma teriam ficado pela desconstrução da fotografia ou outros vídeo-ais. Até certo ponto uma derrota moral dos comics perante os gostos culturais de uma elite: a necessidade de embrulhar pulp descartável entre capas duras. Razão evidente, a respeitabilidade fomenta todo um mercado de mais-valias. Artistas, editores e distribuidores todos ganham com o valor acrescentado à obra, académicos e críticos idem. Se a leitura final ganha ou perde nesse processo, depende mesmo da sujeição que os anteriores consignam à autenticidade da peça no seu final, tendo esta saltados por todos os hoops exigidos em status.
Talvez possamos entender os art comics como uma negação do status quo, uma bofetada como antes de si outras guardas avançadas o tentaram: não tiveram pudor em desprezar abertamente a vertente comercial / industrial dos comics, porquê não estender-lhes o benefício da dúvida quando o mercado da arte se presta a absorvê-los..?
Menos evidente, o esforço do autor individual que utiliza o meio como forma de expressão. A distinção, difícil de conseguir. Arte e art comics aparentam-se, art comics e punks também: confundem-se no avant-garde. Todos desconfiam de todos, partilham-se maneirismos mas fazem-no com cálculo – ainda que só alguns consigam fazer as contas.
Impossível de não notar que em torno destas comunidades arsty existe um mercado editorial profissionalizado, com coleções, editores, critérios de selecção, eventos, exposições.
Os excessos de abundancia editorial que os anteriores critérios visam cercar apenas se tornam excessivos onde alguém algures precisa de capitalizar sobre eles: o punk e o artista são ambos críticos à sua maneira, mas apenas um deles faz dessa crítica um argumento de venda.
leituras adicionais
- museus
- $$$
No tópico de apropriação cultural no TCJ:
Out of more than 77,000 works in MoMA's permanent collection, not one of them is by Mike Sekowsky. One hundred forty-six are by Lichtenstein. What is it that Lichtenstein does that's so superior? Let's pretend it isn't about money.
Museums prestige rests, in some part, on a perceived notion that they possess some sort of intelligence that the world at large can access within their halls. If so, why can they only process this kind of imagery when it's really, really big and has a history of being exchanged for lots of money. A well-made image, blown up to gargantuan size, seems to be how the art world can process (if we're being charitable) or use (if we're being fair) cartooning.
Let's make no mistake though: cartooning, artistically speaking, is doing fine without the validation of museums or influential art writers.
in "At the Mountains of Madness" 23 mar 2017
Com mais cites generosos aqui.