Uma maior qualidade e consciência das artes circundantes contribuiu para uma maior inovação estética e narrativa, mas igualmente relevante, uma maior inovação tecnológica contribuiu para uma maior oferta das anteriores. A importância que atribuímos à tecnologia nesse processo é fundamental: da sua origem e contínua evolução, em todos os seus estágios a banda desenhada associa-se aos progressos técnicos que a assentam no cruzamento à indústria de massas, e mesmo se agora as negam só o podem pelo novo estágio de evolução tech alcançado, com particular menção honrosa às tecnologias de acesso online.
Ao engrandecimento abismal de art comics e autores /artistas não será estranho duplo papel da Internet na propagação de ideias, i) simultaneamente capaz de criar uma comunidade autorreferenciada que favoreça a troca de experiências e consolide novos preceitos, e ii) idêntica fonte de inspiração à miscigenação de meios e referências no qual o digital é supremo e através da qual se alimenta a nova contemporaneidade dos comics.
Não vos conseguimos melhor ilustração da relação entre comics e arte que a leitura cáustica que vos convidamos a fazer a propósito da génese deste meio, com o bónus de igual incursão aos media, imprensa, jornalismo, tecnologia, e as massas populares que tanto nos apraz.
- Os comics começaram a ganhar a sua popularidade na viragem do século XIX quando surgiram nos suplementos de jornais norte-americanos, cuja impressão litográfica de baixa qualidade favoreceu um estilo gráfico dominado por contornos pretos bem definidos e áreas sólidas de cor.
- Originalmente, Joseph Pulitzer pretendia publicar uma secção de "arte" onde reproduziria pinturas famosas, mas o processo de impressão não o permitiu e assim optou por uma seção de tiras humoristas.
Imaginemos o estado da arte em Arte se a imprensa tivesse conseguido levar às massas iletradas das suas metrópoles o melhor de Kandinsky, Picasso, Matisse, Duchamp, em vez da banda desenhada. Nessa fantasia, onde re-imaginar a banda desenhada tivesse esta nascido em tal companhia ou de outra casa que não a imprensa amarela?
Prosseguindo: impressão e distribuição prosseguem o seu desenvolvimento no sentido de uma maior democratização de acesso e uso, novos estilos e formatos são condicionados por via destes, seja na adequação ou reacção aos mesmos. Gradualmente novas tecnologias analógicas e digitais viabilizam tiragens reduzidas de qualidade contra a lógica de mercado precedente, liberto desses constrangimentos de volume e estilo os autores regenerados artistas improvisam uma nova linguagem apenas possível pelo duplo despreendimento ao circuito comercial e limitações à destreza gráfica.
Infelizmente, alguma timidez ainda atrapalha a adoção plena do digital.