Este é o segundo post de fanboy a outra BD / criador que publicamos em todos estes anos dOS POSITIVOS. Não temos por hábito fazer nenhum tipo de thumbs up digital fora o impertinente middle finger ocasional (rimou, tem ritmo: poetry in motion!) mas a ocasião justifica-se. Antes, algum contexto. Quem o conhece, sabe que o EAT MORE BIKES mete puns e pilinhas a torto e a direito. Exemplo:
So and so, que o próprio se chega à frente:
Tã-nã!
É uma cena… Se compreendem a base, avancemos então. Entre os puns e as pilinhas há momentos de excelência que são de uma genialidade absoluta. Exemplo:
Mas o seu humor vai além do escatológico, o absurdo e a quebra de expectativa é obviamente a componente principal.
E durante vários meses, este foi o nosso favorito.
Rufar de tambores sff -
here comes genius:
DA BOMB, RIGHT?!
fuckin’ awesome!!!
O dente dissolve gradualmente, abre o plano e temos toda uma outra intenção e escala de tempo. Tudo devidamente pontuado com um “shit…” Não é só humor, a expectativa e o absurdo que nos desarma. É também o seu tempo. O seu timing, o seu beats-per-minute - um dia destes teremos que falar da relação da música com a BD... É aqui que o EAT MORE BIKES nos toca pessoalmente: a sua gestão do tempo é-nos familiar.
Aquele “shit...” também também não nos é estranho. E se estamos nisso: a estória que adoramos e onde ilustramos o seu uso de tempo fala de… tempo. É uma daquelas felizes meta-coincidências com que nos deparamos constantemente nOS POSITIVOS.
“Drawn as flat black and white cartoons, the style is raw, fast, crude” -e estamos a citar a página dOS POSITIVOS na wikipedia só mesmo para martelar a ideia :) - é a intenção por detrás do gesto por detrás do estilo que nos aproxima dos seus cartoons, e especificamente no uso da pausa, ou, se quiserem, do “silêncio” visual. Bastaria outra composição mais dinâmica nos painéis, ou mesmo que o “shit” terminasse em “!” e não “…” para que o timing fosse diferente e o gag já não nos fosse tão primal.
Mas este é um exemplo sofisticado, a sua ressonância perde-se dependendo da audiência: qualquer outra pessoa encontrará noutras estórias do EAT MORE BIKES outras preferências ou none at all. O nosso best-ever-eat-more-bikes (até o “Wizard” o ter destronado – mas já lá vamos), é demasiado elaborado para conseguirmos explicar. Seguem-se assim alguns exemplos mais simples para ilustrar o que queremos dizer com o “silêncio”.
O tempo é marcado – nestes casos – pelo “silêncio”, que por sua vez é alcançado – entre outros – pela repetição.
A propósito ainda as intersecções entre P+ e EAT MORE BIKES: nos P+ usamos e abusamos da repetição como técnica -e mesmo como tema…-, especialmente da repetição “mecânica” (é digital mas enfim…). Esta é a mais “certa” para o efeito desejado, a repetição “manual”, enquanto “gesto”, consome o tempo necessário à sua execução, o que no nosso caso choca com a sua função. O Nat por vezes também recorre à repetição mecânica, ainda que não o assuma. Apesar das frames, este desenho é clonado:
Pelo contrário, nós assumimos a repetição: é essencial à nossa narrativa.
Now.
Além dos peidos e dos piços, da genialidade aleatória e cruzamentos de géneses, somos ainda por vezes deliciados com a desconstrução da própria BD. Quem nos lê regulamente sabe que também gostamos de desalinhar nesse âmbito, de vez em quando dentro da própria mas principalmente no que a antecede e precede :)
Here’s Natty-boy:
E assim chegamos ao novo supra sumo do EAT MORE BIKES no que nos toca. Não haverão falta de exemplos meta BD - há, aliás, toda uma escolar de pensamento e prática em torno desse exercício: chamamos-lhe artsy-fartsy mas provavelmente ficará para a história das Artes por qualquer outro nome (e só o facto de ficarem restritos à história das Artes encerra-nos a questão da sua relevância). Yet, o Bulmer eleva o cartoon acima dessa inconsequência pela descontrução da BD no uso intelegente do formato enquanto se mantém fiel a si mesmo. Ladies and gents, if you’re into comix like we are, here be ultra awesome:
O título, os olhos, e o "yay magic" final com os braços ao ar: