Congreguemos.
O primeiro tema em evidência é a tendência problemática de notícias falsas que tem vindo a crescer graças às redes sociais. O grau extremo desta situação verifica-se nos Estados Unidos, onde as notícias falsas são uma realidade cujo impacto nas eleições americanas tem sido reconhecido por muitos analistas. Portugal ainda está longe deste cenário, embora existam vários meios que distribuem conteúdo na Internet e aparentam ser projectos jornalísticos credíveis sem que tenham as preocupações editoriais dos meios de referência.
in "As tendências e os congressos do jornalismo" 13 jan 2017
Não o dizem, mas referem-se ao Observador.
Uma outra tendência que começa a emergir em Portugal é a de movimentos de crítica aos média, -
- OY? ou estão a falar de nós?!
- normalmente a coberto do anonimato, -
... nããão acho que estejam a falar de nós, ou jornalismo de investigação não é o seu forte.
- que visam condicionar o exercício informativo livre -
Ou recolha de informação também não é o seu forte: sobretudo queremos o mais livre exercício informativo possível, ao contrário do modelo defendido por estes senhores.
- o que normalmente é seguido pela criação de títulos com orientações políticas vincadas que passam uma visão não isenta da realidade e servem de berço a projectos políticos populistas.
Estão mesmo a falar do Observador.
"Isto está a ir abaixo porque está a haver uma misturada", entende aquele fundador do PÚBLICO. Há os blogues, as redes sociais, os comentários em cima da informação, os conteúdos patrocinados. "É preciso separar as águas", adverte. "Sucedâneos de jornalismo não são jornalismo. Não pelo rótulo, mas pela substância." O jornalismo exige saber. E atenção, ética e deontologia.
in "Jornalismo: 'Este caminho está a levar-nos à autodestruição' " 13 jan 2017
É mesmo preciso separar as àguas: os senhores que tratam aqui da substância do jornalismo - um saber, ético e deontológico - continuam a confundir "jornalismo", uma metodologia, com "informação", a matéria à qual aplicam o método. Mas esta não tem dono, ainda que custe aos gatekeepers admiti-lo. Evitem levá-lo a mal: tiveram o azar de praticar uma profissão que depende da escassez de comunicação no momento que esta se tornou extremamente acessível. Reinventem-se mas não insultem a inteligência dos vossos leitores para se sentirem precisos: leiam das vossas próprias caixas de comentários de cada peça que escrevem do "ai jesus"...
Felizmente o congresso não se resume ao queixume contra "eles" - as pessoas anteriormente conhecidas por audiências -, ou não fosse este um congresso com sindicados à mistura. O digital esteve obviamente front and center nas suas preocupações, não pela multiplicidade das opiniões e avalanche de pseudo-jornalistas que a web trouxe, mas porque esta infere agora de modo irreverssível sobre o bottom-line: $$$
A sustentação económica do jornalismo está longe de ser resolvida e terão de ser as sociedades democráticas a decidir se querem ter jornalismo livre ou não. Se o quiserem, como a qualquer outro serviço, terá de ser pago.
in "As tendências e os congressos do jornalismo" 13 jan 2017
Felizmente também, no que respeita ao disrupt de evoluções tecnológicas, o tempo acaba por tudo resolver. Quer a discussão do jornalismo amador quer a sua mais imediata preocupação de capital caminham a passos largos de se tornarem mero debate académico que provavelmente estará resolvido antes de publicarem as actas do congresso.
Infelizmente, evitam discutir como todos os elefantes na sala dançam de mãos dadas ao som das suas lamúrias. O i) $$$, ii) a perda do monopólio à informação e iii) a descrença dos vossos leitores em qualquer porra que escrevam, derivam todas da mesma a mesma origem: o vosso modelo de negócio *. Nada deste inspira confiança, e não é de hoje.
* Ou, quando atacam o populismo rampante na web e contrapõem com a vossa missão luminária, esquecem-se que é isso que são: um negócio?
Quando é a sobrevivência pessoal que está em causa, "o medo e a auto-censura prevalecem" e "o espírito crítico está adormecido", disse a dirigente sindical. "Quatro em cada dez jornalistas diz que tem medo de perder o emprego, disse a presidente do congresso", a jornalista Maria Flor Pedroso, para quem chegou o tempo "de passar do diagnóstico à procura de soluções".
in Jornalistas enfrentam "a mais grave crise das suas vidas profissionais" 12 jan 2017
E pelo retrato feito à profissão têm tudo para ter medo mas ao menos acertem com o diagnóstico antes ou arriscam a matar o paciente. Timidamente, no muito adequadamente intitulado "Jornalismo: 'Este caminho está a levar-nos à autodestruição' ", lá arriscam para o final do artigo - e sem maiores desenvolvimentos, imaginamos que fica à imaginação dos leitores, ou aquilo do "medo" e "auto-censura":
A crise de identidade é também uma crise de credibilidade" e a responsabilidade, julga Fidalgo, "não é só dos jornalistas, é também das empresa, que também têm obrigações éticas".
in "Jornalismo: 'Este caminho está a levar-nos à autodestruição' " 13 jan 2017
Caro jornalista: és capaz de ter aí qualquer coisa, sugeria investigares isso das empresas sem ética. Sabemos que é chato sair da redação em reportagem, mas não tens que ir longe... Convém é meteres alguma pressa na peça - dizem-no a respeito dos nativos digitais mas não excluam os legacy media, também eles em risco de se rever na descrição:
E hoje os meios que exploram apenas o digital sentem o problema acrescido de depender de uma indústria publicitária cujo modelo de negócio empurra os valores para próximos do zero
in "As tendências e os congressos do jornalismo" 13 jan 2017
Caros: zero é a meta.
"não há crise"
Na categoria "o dia seguinte", e a propósito do Observador, o director do Público - não confundir com "Director do público"- a desmentir os seus próprios jornalistas: da credibilidade da profissão estamos conversados, either way.