sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

"curtains fall on arts critics at newspapers"

(e, acrescentamos nós, não estava lá ninguém para aplaudir)


Continuamos -e concluímos- este texto ainda motivados pela identificação de contradições. Do mesmíssimo autor:

Os jornais precisam de ser pensados, transformados e criticados do interior para tentar interromper a "estratégia fatal" que lhes dita o caminho.
in "Sobre o jornalismo e seus derivados" 13 jan

Intercalada entre parágrafos a ideia de crítica repete-se outras tantas vezes e predomina sobre a crónica:

Até esta afirmação, enquadrada num espaço de "opinião", onde há de tudo para representar a pluralidade do mundo, é uma crítica vã, mais não faz do que tornar-me rotineiro e alimentar a rotina do jornal.

[Sem que] os jornalistas proletarizados nas redacções tivessem a possibilidade de ter uma intervenção crítica na vida do jornal

Os media são capazes de acolher, vindas da direita e da esquerda, abundantes posições críticas perante a sociedade

Mas o que é mais difícil encontrar neles é quem tenha uma atitude crítica relativamente à posição que ocupa não perante o mundo e seus arredores

Isso sim, seria uma atitude crítica necessária e capaz de operar transformações.
in "Sobre o jornalismo e seus derivados" 13 jan

E a nossa deixa para subir ao palco e interromper a peça:

Um papel acrítico da elite que ocupou o espaço público mediático [que se exibe] bem nesta portuguesíssima aberração: há quem tenha opinão para emitir e comentário para fazer sempre que o Sol se levanta.

Até os membros deste novo clero aparentemente mais exigentes e conscientes são tão atraiçoados pela falta de distância crítica em relação à posição que ocupam e o papel que desempenham.
in "Sobre o jornalismo e seus derivados" 13 jan

O autor aponta à tensão de "visibilidade" como exemplo de uma contradição "interior" à vida no jornal. Nós tratamos dessa enredada no conceito maior de autenticidade, e em tópico com esta, "visibilidades" de classes exteriores à vida do jornal terrivelmente preocupados com o espaço que ocupam neste, conscientes, exigentes, mas sem a distância crítica necessária à posição e papel que ocupam ou capacidade de crítica interior. Falamos daquela espécie que tantas comoções nos têm guiado à escrita neste espaço, o mais dispensável * dos derivados do jornalismo : o crítico - especificamente, o crítico cultural.

* E nem somos nós que o dizemos, nem foi necessário voltar muito atrás para o ilustrar. Da semana passada:

The end of the age of the critic: critics at newspapers are dying off even faster than print journalism.

Papers aren’t trimming fat, they’re amputating limbs. While departments have seen round after round of layoffs and buyouts, arts staffers see their jobs targeted first.

It’s not that the book critic goes before the city hall reporter. It’s that the book critic goes before the guy who covers high school hockey. The trend echoes the value judgements public schools have made where math classes and the football team stay but the drama club and jazz band don’t.
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2017

Os críticos ocupam um lugar especial no nosso inferno.

O crítico cultural profissional - excluímos da seguinte preposição todo e qualquer pulha amador cuja ignorância dos posts com que inquina a webosfera encerra em si a espontaneidade, ligeireza e impetuoso perecer que o acusam na sua irrelevância e consequentemente escusando-se a posterior reflexão –, é tão pulha como o supramencionado ignorante. Apenas, ao contrário desse, persegue essa condição com uma pertinácia profissional.
in Real Nós, "glossário: underground" 2013

Não podemos resumir tantos anos de fel à espécie, mas podemos citar-nos amplamente de ocasiões passadas, permitam-nos recordar-vos a recepção que este recebe entre nós. Do "estado da arte", circa 2011:

O discurso especialista só se torna aglutinador de realidades quando consegue encontrar uma audiência que voluntariamente opte por fazer fé nesse simulacro ao invés de descobrir a sua verdadeira essência pela experiência directa com a mesma.

Independentemente das motivações por detrás desta rendição intelectual ao especialista, esta será tanto mais conseguida quanto este conseguir manter um discurso coerente que sustente essa artificialidade e lhe aparente uma camada de consistência que torne esse jogo de sombras mais credível que a própria realidade. Tal apenas pode ser conseguido com a sugestão de uma separação entre sujeito e discurso, que permita a este último reivindicar uma existência sobrevivente ao seu próprio enunciador.

De todas as áreas de especialização, aqueles que se dedicam à critica da arte - ie, dos gostos - serão sem dúvida os mais subjectivos, e quando se dedicam à arte dos outros, os mais dispensáveis.
in Real Nós, "o estado da arte" 2011

Sorrimos de lado a lado de saber que também esse pérfido personagem chega ao seu derradeiro desfecho engolido pela mesma vaga que esvazia o jornalista e o comentador de qualquer aura *.

* Aquilo da autenticidade, estamos quase-quase a chegar: para outro dia.

No alvoroço que assola os media, rasga brechas na imprensa e reinventa o jornalismo à laia das circunstâncias, também o crítico se generaliza - e passe o repeat mas é necessário vincá-lo com especial volúpia e ares de malícia em crescendo de um sorriso cada vez menos contido que ameaça explodir de jubilação: a sua generalização confunde-se com a vulgarização do ofício.

Não o lamentemos, recordemos: antes da arte se popularizar, não os havia.

Critics and reviewers like to grant themselves a preeminent role in "the growth of art." I accept my place as a second-class participant, a well-meaning parasite who leeches off of the work of my artistic and creative superiors. I could do worse.

Surgem a terreiro apenas quando a arte desce à rua e vivemos um novo passo dessa dança: maior democratização de meios, populismos e vulgaridades: que papel cabe a esse intermediário da arte e público se agora todos são artistas de tendência ímpar? E que função lhes condescender no nosso debate de hierarquias, privilégios, elites e gatekeepers? E onde se cruza à arte, com quem dividimos e aparentarmos meios e formas mas nos suga os recursos, desvia o debate, dilui o embate? Como a entendemos enquanto uma de várias manifestações de cultura, que, parece-nos, cremos ter uma definição algo mais abrangente do que uma academia reputaria de cara séria? Finalmente, onde essas manifestações espelham, suportam e promovem a nossa militância pelas orlas duma sociedade que, a não a podermos vencer, declinamos: de que nos serve o crítico de arte?

Procuremos respostas no artigo da CJR.

Este não é parco na sua defesa, mas falha em convencer-nos mesmo servindo-se do mesmíssimo set de motivos pelo qual desprezamos os media:

Legitimate artistic endeavors start to recede from the mainstream consciousness in favor of fluffy celebrity-driven stories.
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2016

E se o raciocínio tivesse perseguido uma maior clarividência aos innerworks da imprensa teria sido um exercício muito mais proveitoso, mas estava inquinado à nascença. O excerto anterior que acolhe da nossa concordância começa justamente com a negação de qualquer validade adiante. Novamente a frase, agora completa:

With their champions banished from papers, legitimate artistic endeavors start to recede from the mainstream consciousness in favor of fluffy celebrity-driven stories.
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2016

Sobre os campeões dedicamos-lhes o resto da nossa crónica, mas façamos o debunk da peça: os críticos deveriam ser mais críticos do seu próprio mérito, e não conseguimos exemplo tão ilustrativo como o inadvertidamente proposto: mais do que a arte ou os artistas, é aos críticos que cabe a glória da causa? Senhores... E, logicamente, mal se arranha o regime encontramos os suspeitos do costume.

Thanks to the web, arts writers have plenty of outlets (especially if they are willing to write for little to nothing). (...) These destinations gain traction when print gives up on covering the arts.

O queixume passivo-agressivo do "graças à web" não é a única contradição, só a primeira e deriva da mesma que se contrapõe na ideia base do texto: o pedantismo das elites e dos gatekeepers de portões entretanto escancarados. Cada um à vez então.

I don’t know if it was us chasing the fad or creating the fad, but papers lost their voice of authority to try to cater to youth," Bowles says. "It’s all for kids. The papers, the movies and music. There is nowhere to go for smart analysis, beautiful features. Social media means everyone has a voice but what’s lost in the cacophony is that intelligent voice commenting on intelligent art.
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2016

Autoridade vs jovem, análise inteligente contra a cacofonia do "todos". Onde começar?

Jovens e autoridade estamos conversados, continuemos a exclui-los portanto – e este "eles" vai de igual a ambos: os primeiros desejam libertar-se dos segundos, que a não domar os indigentes também não vão de modos com exclusões - é um generation gap milenarmente actualizado.

A inteligência contra as massas ignora de que massa essas são feitas: indivíduos, cada qual capaz das suas próprias considerações e dotado das suas preferências, consequentemente uma tão absoluta submissão à autoridade central de uma "inteligência" é sinal de tudo menos dela. O mesmo velho aforismo de sempre: para elevar alguns bastará por vezes rebaixar outros.

Em sentido inverso e continuando a nivelar o plano, mais contradições: gatekeepers ainda de chaves na mão saudosos de quando os portões lá estavam. Imprensa bom, blogs e artsites mau. Agora porque a web se ocupa de nichos – e estivemos aqui há não muito tempo a propósito das nossas teses.

Blogs and niche arts websites thrive (...) but they can do great work, (...) and still not plug the hole newspapers have left by pulling arts pages. Niche sites cater to niche audiences.
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2016

A imprensa, mais generalista, cumpre uma função mais abrangente:

But papers traditionally speak to a wider audience. A writer can compare new roots band Old Crow Medicine Show to Willie Nelson, or draw a line from Bruce Springsteen to young songwriter Jason Isbell, and suddenly that artist piques the interest of somebody who only picked up the paper for the box scores or crossword.
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2016

Um quadro pitoresco que só falha em afinidade à realidade. Porque afinal os nichos são importantes. Uma para os nichos e uma para a imprensa com o bottom line de todas as questões sempre em fundo:

"My artists make their money on the road, so regional coverage is more important than national coverage, and that regional coverage comes from newspapers."
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2016

E agora subtrai-se a imprensa da equação -

We can no longer expect our big regional daily to provide one-stop-shopping coverage of the arts

- e soma-se aquilo da web que no seu modo passivo-agressivo omitimos atrás para revelação dramática:

Blogs and niche arts websites thrive (if not economically, certainly in terms of traffic). But they can do great work, gather thousands of readers, and still not plug the hole newspapers have left by pulling arts pages.

Destaques nossos. Relendo o original expiado do bláblá parece-nos evidente que o verdadeiro lamento está na perda de estatuto, mais particularmente na sua intersecção à " autêntica " assunção deste: $$$. Qualquer outro entendimento da nobre causa que a si chama e sobre os seus ombros carrega deverá sempre ser reenquadrada à luz de mundanas comiserações de quem se posiciona na habitual corrida de ratos.

A maior contradição de todas não é que quem hoje jorra rios de tinta e indignação para combater as populaças da web que ameaçam subir dos porões ao convés seja o primeiro a abandonar o navio amanhã quando este afunda. Apenas e tão só, a de sempre. Em nome de uma objectividade impossível e bem comum ao qual são indiferentes senão mesmo antagonistas, insistem num status quo cujas permissas ainda julgam "invisíveis" aos demais, quando todos sabem que deste "retira[m] o capital simbólico, eventualmente convertível em capital real" que os motiva.

Assistimos nestes dias a uma experiência que contra a tendência bem pensante provocará de fora todas as inflexões que os media falham de dentro em alcançar, e convergências que simplesmente não poderão perdurar muito mais.

Uns e outros estão tão ocupados com a dimensão mais imediata da sua tarefa que a única relação com os meios de produção em que são capazes de pensar é de ordem meramente pragmática.
in "Sobre o jornalismo e seus derivados" 13 jan

OS POSITIVOS: porque a nossa tarefa é de ordem pragmática mas a nossa relação aos meios de produção muito diferente da habitual, faremos a nossa parte.

Nota de rodapé

A foda das massas: algures, um indivíduo devotado às suas preferências tece as suas próprias considerações que podem chocar com a beleza da inteligência comentada. De contradições que nos são próximas, dizem-nos que -

"When a city loses its critics, there is less news and views about the art form they cover circulating locally," (…) A local critic knows something that is simply irreplaceable about the local audiences and readership. (...) Following these individuals’ stories and success connects us to our communities and our humanity.
in "Curtains fall on arts critics at newspapers" 6 jan 2016

- ilustrando-o entre outras com uma tão célere referência que porventura seria suficiente para estabelecer o tom mas passar despercebido sem ademais considerações:

"...16-year-old kids playing all-ages punk shows in basements..."

Neste caso, temos mesmo que devolver à peça: tivessem os críticos realmente desempenhado essa função que lhe apontam na imprensa, entre jornalistas e comentadores alike, teriam estes mesmos punx sentido a necessidade de criar toda uma alternativa à dita, e, acrescente-se, décadas antes da web? Cremos na proximidade à comunidade, mas pressupõe uma lógica de participação, não selecção: os campeões da cultura falharam, como falharam os campeões da verdade e da opinião, porque correm todos atrás do mesmo queijo.

O empirismo radical é uma filosofia e o pragmatismo um método, sendo cada um deles independente do outro. Se o pragmatismo enuncia os factos correctamente, somos todos pragmatistas sem saber

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