"Por esta altura, começa a construir-se um edifício feito de elementos singulares, e a que se poderá vir a dar o nome de 'obra gráfica'", mas dessas frentes tratamos noutras partes.
Continuando de museus e outros arquivos, segway ao texto de Pedro Moura publicado no mesmo dia sobre "Duplo Vê/O Tautólogo" de Mattia Denisse. Despachando esse:
Duplo Vê — O Tautólogo é um dos tentáculos do projeto Duplo Vê, que se compõe também pelo site dupluvedupluvedupluve.com e pelas exposições apresentadas na Casa das Histórias – Museu Paula Rego e Galeria Zé dos Bois.
in "Duplo Vê — O Tautólogo" 8 jun 2017
Obviamente, insuspeito do nosso interesse e enquadrado nas leituras a que PM nos desabitua. Um scroll em acelerado confirma o valor artístico da obra, pelo meio alguns comentários sugerem as pontes que nos ficam:
Se o considerarmos a partir do conceito do “arquivo”, talvez possam surgir algumas questões de família com outras práticas artísticas.
in "Duplo Vê/O Tautólogo. Mattia Denisse (dois dias)" 23 mar 2018
Outras práticas artísticas...? Fala-me mais...
Não é um mero repositório burocrático dos desenhos da exposição, não é um catálogo. É antes um relançamento dos mesmos materiais numa modalidade diferente, que agencia esses mesmos desenhos em novas redes de possibilidade.
in "Duplo Vê/O Tautólogo. Mattia Denisse (dois dias)" 23 mar 2018
Arquivos, catálogos, repositórios de conteúdo relançados em novas redes de possibilidade. Será...? Podemos ouvi-lo: temos digital? Temos, mas pela sua negação em práticas e usos.
Não deixa de ser curioso também que, se as “artes arquivais” fazem usualmente menção ou uso de todo um aparato tecnológico desenvolvido ao longo do século XIX e XX, e que tem já no XXI consequências exponenciais na internet 3.0 e na internet-das-coisas, Denisse se vire não apenas para uma das mais velhas tecnologias humanas como para acções que também implicam um quase-despojamento nessa história.
in "Duplo Vê/O Tautólogo. Mattia Denisse (dois dias)" 23 mar 2018
Fala-se de um "uso relativamente simples das tecnologias de informação, comunicação e armazenamento" antes da singela frase que nos interrompe o navegar desinteressado em prosa alheia e atiça-nos paralelos:
Certo, temos uma cena onde se vê um projector numa sala de aula, ou outra com o portátil do artista, mas a esmagadora maioria das imagens mostrarão o protagonista manipulando ramos e paus.
in "Duplo Vê/O Tautólogo. Mattia Denisse (dois dias)" 23 mar 2018
Suspendam ideias um instante, levamos-vos agora por um outro caminho para conclusões de (pre)juízos. Por coincidência (*) horas antes tropeçávamos noutra crónica igualmente ocupada com projectores.
Citamos António Guerreiro, com o título generoso "O Triunfo dos Ecrãs" 23 mar 2018, interpretações à vossa imaginação:
Há dias, vi um professor com mais de cinquenta anos exibir com algum snobismo a sua ignorância em questões técnicas: como ligar um projector, como inserir um DVD no computador, como iniciar a sessão. A inabilidade que ele ostentava sem pudor e até com alguma presunção era claramente percebida pelos alunos (alguns dos quais lhe resolveram imediatamente todos os problemas técnicos) como uma prova de incompetência que nenhum outro saber conseguiria resgatar. A escola, hoje, com um corpo docente muito envelhecido, é o lugar de uma luta sem tréguas entre duas culturas: a dos alunos e a dos professores.
in "O triunfo dos ecrãs" 23 mar 2018
Da nossa guerra de culturas digitais e ao papel, continuámos em desalento com PM:
Cada olho no seu galho.
in "Duplo Vê/O Tautólogo. Mattia Denisse (dois dias)" 23 mar 2018
- mas interpretamos o estrabismo anterior de modo diferente ao imaginado na sua escrita. E quanto saltávamos a conclusões quiseram os deuses das ironias pousar o seu chá e salvar no instante final uma promessa de futuro melhor. Por instante final queremos mesmo dizer a última linha possível do seu longo texto:
Nota final: agradecimentos ao autor e editores, pela oferta do livro. Gif copiado do site da editora.
in "Duplo Vê/O Tautólogo. Mattia Denisse (dois dias)" 23 mar 2018
Foi o gif animado que o denunciou. Recurso tradicional de bd digital, seguimos a suspeita e confirma-se expectativas: contra estas, os nossos artsys arriscam uma presença no digital para lá do Facebook.
Aproximam-se agora de 2009, mas é um começo. Falta que se alastre aos cómicos.